È a primeira vez que falo nisto aqui.Espero não ser a ultima, para dizer a verdade sempre fugi ao tema porque não sou o tipo de pessoa que me sinta frustrada com isto.Nem tão pouco tentei alguma vez fugir a isto.Eu tenho orgulho sabem?Posso não ter orgulho de mim, mas tenho orgulho de quem me criou. de quem me sarou as feridas, e me ensinou a seu quem sou.Tenho orgulho de ter sido criada com a minha avó, e podia estar aqui anos a falar da minha avó, que trabalha desde os 16 anos e cuidou dos irmãos quanto tinha 12.Quando eu tinha 12 anos, nem sabia sequer o que era pegar ao colo um bebe, nem sequer sabia cuidar de mim.Eu tenho orgulho que ela me tenha batido na boca, cada vez que disse uma asneira, agora quando estou mesmo chateada so digo merdinha. A minha avó não sabia combinar as cores, viu na televisão que na altura o branco ficava bem com tudo, vestia-me vestidinhos com camisas e golas para fora, e ainda me colocava no cabelo um gancho com um laço para combinar com o vestido,ela tinha um vestido quando era nova, um para os Domingos e andava descalça, quando o rasgou a mãe deu-lhe uma tareia tão grande!A minha avó era bonita (ainda é), não tinha uma beleza pintada, tinha do que me lembro um cabelo muito comprido, que me deixava pentear todas as noites, mesmo que não lhe apetecesse, ás vezes eu acordava de noite quando ainda tinha uns 4 ou 5 anos a pedir canja, e ela dava-me duas colheradas e o resto deitava fora, a minha avó contava-me historias que nunca ninguem lhe contou, mas que ela aprendeu para me contar.Podia de facto estar a falar da minha avó durante anos.A minha infancia não teve pais a discutir, a minha infancia foi aquela que eu desejo para os meus filhos, eu fui criança e fui amada, fui a pessoa mais amada do mundo.Cresci sem pai, cresci sem pai porque não deu, porque eu entendi desde cedo que ia ser assim, que ia ser uma criança sem pai.E fui feliz de mais para me preocupar com mais esse drama, para dizer a verdade eu nunca tive um problema, o meu unico problema foi esse.
Então como me amavam tanto, construiram um nucleo, a minha mãe, a minha querida mãe, minha amiga e o meu grande amor fez-me o que sou, disse-me que não era suposto eu ter papas de farinha na lingua, disse ainda que essas papas não eram para me fiazer na cabeça e ainda que eu devia ter um dia um grande amor.Ensinou-me a ver que se eu gostava da saia ás pintinhas rosa com uma camisola amarela e de estar como estou só a mim me diz respeito, a mim unicamente fez-me estar para aqui com este discurso todo, e ter orgulho disso.Falei aqui das duas pessoas que constituem a minha base, mas muitas mais há que referir, a pessoa que ocupou o lugar do meu pai, e as duas famílias que eu ganhei.Muitas vezes senti-me filha de tanta gente e com tanto amor no coração que me senti rodeada de um amor incondicional que até me sinto não era digna.Nunca pedi nada á minha mãe, ela leu sempre os meus pensamentos nos Natais sucessivos, e ainda no dia dos namorados em que não tinha namorado, e nos aniversários que me acordava a chorar.Foi assim que vivi toda a minha vida, com a minha família como ombro, primos, irmã (amor de toda a minha vida e a pessoa que mais amo),avós,os meus queridos padrinhos e os meus amigos.Sou uma pessoa que se entrega de alma e coração, que chora com saudades, e diz ás pessoas que as amo.Não tive sem dúvida uma família convencional e tantas vezes infeliz, vejo o meu pai com o amor possível e faço questão que ele o saiba.Por algum motivo raramente me chamam de Filipa, chamam-me de filha, de neta, de afilhada, de nomes castiço ou diminutivos.Cresci com a crença que conseguia enfrentar tudo, porque assim era suposto.Senti-me toda a minha vida amada, com uma personalidade vincada, e o sorriso e delicadeza meiguinhos.Nunca me ensinaram a percorrer grandes estradas, a afastar-me muito do sitio.
O texto não é sobre mim, é sobre a minha história e a forma como tenho orgulho das pessoas que me rodeiam, obrigado por isso.
Porque me fizeram alguém com crenças, porque as pessoas que me rodeiam sempre acreditaram em coisas que me enaltecer, sempre me protegeram do mal, sempre se sacrificaram por mim e possibilitaram que eu seja assim, que eu nem sequer me lembrasse do que não tenho, de me defenderem com unhas e dentes, de ter sido a menina querida num seio cheio de amor.
Tenho pena que pessoas não tenham o que eu tive, o mimo o colo, o colinho.E acima de tudo não o saibam avaliar, cuspam frustradas o que não sabem, o que nem sequer lhes diz respeito.Tenham inveja dos outros e dos ganhos.A todos boa sorte, a minha vida são o núcleo, as pessoas que me fizeram ser quem sou hoje, levantar a cabeça e gostar do sol, de cores alegres, de rir, de ir á Igreja com a minha avó, de acreditar que amanhã por mais que aconteça terei muitos ombros, e isso, é divino, não é destrutível ou abalável.